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Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2012
 
A democratização, oxigenação e transparência do espaço público brasileiro é ainda tarefa árdua e de longa construção
Por Marcelo Chalréo, Assessor Jurídico da ADCPII

Prezados Diretores,

Ciente, ainda que em linhas gerais, dos procedimentos levados a cabo pela Reitora pro tempore do Colégio Pedro II, não posso deixar de registrar minha profunda solidariedade com a maneira como a ADCP II vem tratando o tema, ou seja, tentando de fato a implementação de uma discussão democrática e participativa do que deverá ser o documento constitutivo/interno da nova instituição que se organiza a partir da nova regra de regência na qual inclusa. Por outro, lamentar incisivamente o modo como a discussão vem sendo conduzida pela atual gestão, que certamente passa ao largo das aspirações democráticas e partícipes que têm guiado boa parte da sociedade brasileira nos últimos anos, o que, outro viés, também é revelador de quão do espírito totalitário e discriminatório ainda encontra-se inculcado em muitos dos administradores públicos do Brasil.
A democratização, oxigenação e transparência do espaço público brasileiro é ainda tarefa árdua e de longa construção.

 
A "BAGUNÇA GENIAL" DA GREVE DO CPII EM 2012
Por Lício Monteiro *

A "BAGUNÇA GENIAL" DA GREVE DO CPII EM 2012
A greve de 2012 no Colégio Pedro II colocou em evidência dois fenômenos bastante característicos e representativos do que é o nosso colégio. Por um lado, o alto grau de autonomia, participação e discernimento político dos alunos do CPII. Por outro lado, o argumento amplamente difundido de que esses mesmos alunos são manipulados e conduzidos por professores, servidores técnico-administrativos, sindicalistas e outras indecifráveis forças ocultas.
Nenhum dos dois fenômenos deveria ser surpreendente.
A intensa participação dos estudantes do CPII no movimento político que tomou conta das instituições de ensino de todos os níveis no Brasil, desde o início de 2012, é apenas um sintoma do elevado grau de consciência que encontramos em sala de aula, quando somos colocados diante de alunos inquietos, críticos, sensíveis e questionadores.
Surpreendente seria não encontrar esses estudantes nas lutas em defesa da educação, já que nos cansamos de observar seu engajamento em diversas lutas sociais, aparentemente distantes daquilo que costumamos delimitar como "educação", mas que constituem parte da experiência pedagógica e humana do aluno do Colégio Pedro II.
Surpreendente seria se não encontrássemos nos alunos de hoje a tradição de rebeldia que tem marcado a história dos alunos do Colégio Pedro II, desde os tempos de Império passando por todos os principais momentos políticos da história do Brasil, inclusive nos períodos ditatoriais. Cabe lembrar que os alunos do Colégio Pedro II já faziam greve dezenas de anos antes de os professores pensarem em fazê-lo.
Surpreendente seria olhar para os alunos do Colégio Pedro II e encontrar a indiferença, a prostração, o acabrunhamento, a atitude distante e desinteressada, "o ar de quem chora um imaginário defunto", "a correção de um boneco de museu de cera", para usar algumas metáforas rodrigueanas.
Mas outro sintoma de nossa época aparece no recorrente argumento bradado em ciber-manifestos, nas salas de professores e até mesmo nas assembleias, mas que frequenta também a boca-pequena, a rádio-corredor, o burburinho do colégio - o argumento da manipulação sofrida pelo aluno do CPII.
Esse também não surpreende, pois é o sintoma da miopia e da incompreensão de alguns professores diante de seus alunos. Algo recorrente não só nos momentos de greve, mas também nas salas de aula, conselhos de classe e gabinetes. É um argumento que parte do princípio de que o aluno é um ser desprovido de... Complete como acharem melhor. O complemento varia, o que não varia é esse olhar para o aluno como se houvesse nele algo de menos, sempre um déficit de raciocínio, de autonomia, de vontade própria. Desprovido de.
Muitas vezes o objetivo é o de isentar os alunos de responsabilidade, acusando professores e técnico-administrativos como os irresponsáveis que colocam os alunos em situações nas quais eles não estariam em sã consciência. Paternalizam a rebeldia como forma de negar sua legitimidade e autenticidade.
O passo seguinte é o de deslocar a culpa dos adultos para atribuí-la a alguns alunos, a um grupo seleto, que conduz e manipula os demais. A conclusão subsequente dessa lógica tacanha seria a de individualizar e punir esses exemplares da má conduta, esses "pequenos vândalos" - esses que, no entanto, representam a "natureza cálida", o "apetite vital" e a "ferocidade dionisíaca" que caracteriza, nas palavras de Nelson Rodrigues, o aluno do Colégio Pedro II de qualquer tempo.
Curioso é notar que essa indignação canalizada contra os alunos mobilizados do Colégio Pedro II não aparece contra atitudes autoritárias tomadas contra esses mesmos alunos tanto dentro do colégio quanto fora dele.
Curioso também é notar a queixa frequente de que os alunos nada assimilam nas aulas, enquanto dizem que esses mesmos alunos são facilmente influenciáveis nas atividades fora das salas de aula, nos momentos de greve, nas manifestações políticas. Não deveríamos esperar, senão o senso crítico dos alunos, pelo menos a inapelável teimosia com a qual temos que conviver diariamente nos tempos de calmaria?
O movimento dos estudantes do Colégio Pedro II é uma força, uma força da natureza, diria o repetitivo Nelson. Essa força se insinua onde não percebemos e irrompe vez ou outra com uma consistência que surpreende aqueles pouco atentos.
Nessa greve de 2012 aconteceu algo de novo que mudou o padrão, a repetição na qual os soturnos e merencórios costumavam assentar seus argumentos. Os alunos entraram em greve. E ao fazê-lo, construíram seu próprio comando de greve. A partir deste, constituíram algo até então inédito, o comando paritário junto com os servidores, no qual alunos e servidores eram representados com o mesmo número de votos. Desta forma, assumiram de fato a condução do processo no qual estavam inseridos. Diferentemente de outras greves e movimentos, quando os estudantes eram a maioria na ação, mas tinham dificuldades de interferir nos rumos. Essa não foi uma conquista trivial, basta recordar a resistência que diversos setores sempre tiveram a esse nível de engajamento dos alunos nas decisões políticas.
As consequências dessa nova experiência podem ser notadas imediatamente, em diversas decisões tomadas durante a greve, como no caso da ousada ocupação do gabinete da Direção Geral. Mas nossas expectativas devem se voltar também para as consequências no longo prazo, para o aprendizado político adquirido, para a conquista de uma posição que dificilmente deve retroceder.
A greve hoje se encaminha para o fim, mesmo com tantas pendências nas negociações com o governo e no âmbito interno do Colégio. Parafraseando Nelson Rodrigues, não farei, hoje, a crônica sobre o fabuloso sol do colégio. Pretendo escrevê-la, com mais vagar, amanhã ou depois. O Pedro II está ardendo no jogo da primavera. Vale a pena uma meditação sobre a qualidade humana dos seus alunos.
P.S. - Para quem quiser ler as crônicas do centenário Nelson Rodrigues sobre o Colégio Pedro II, indico o blog http://blogdoguilhermedecarvalho.wordpress.com/2010/12/22/nelson-rodrigues-ve-o-colegio-pedro-ii/

* Licio Monteiro, ex-aluno e professor de Geografia da Unidade Humaitá

 

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